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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Inconsciente - Id, Ego e Superego



          Adriane Maranho
            Segundo Maria Cristina Kupfer (1989), Freud mostrou, através de seus estudos que a divisão da consciência era fruto do conflito de forças psíquicas encontradas no interior do psiquismo, o resultado de uma luta entre o EU e impulsos da natureza inconsciente.
            Foi estudando os sintomas que Freud pôde entender melhor o que era esse inconsciente que se manifestava através desses sintomas. E, aos poucos, foi encontrando em outras formações psíquicas não-neuróticas a manifestação do inconsciente. Freud descobriu então que essas outras manifestações, ao lado dos sintomas, são os sonhos e os atos falhos.
            Kupfer (1989) afirma que foi através dos lapsos, dos sonhos e dos sintomas que Freud deduziu a existência do inconsciente.
            Quando estudava e analisava o ser humano, Freud, de acordo com Fadiman (1986), defendeu a idéia de que há conexões entre todos os eventos mentais. Para o psicanalista, quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos pensamentos e sentimentos que o precedem, as conexões estão no inconsciente.
            Para a psicanálise, no inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são acessíveis à consciência.
            “A maior parte da consciência é inconsciente.” (p.7), e, segundo Fadiman (1986), ali estão os princípios determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica, e pulsões ou instintos.
            O pré-consciente, de acordo com Fadiman (1986), é uma parte do inconsciente, mas uma parte que pode tornar-se consciente com facilidade.
            Diz respeito às lembranças de tudo o que você fez ontem, seu segundo nome, todas as ruas que você morou etc.
            “O pré-consciente é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções.” (p.8)
            O consciente é, nos dizeres de Fadiman (1986), uma pequena parte da mente e inclui tudo que estamos cientes num dado momento. Freud se interessava em estudar o consciente, mas, era evidente o seu interesse maior por estudar o pré-consciente e o inconsciente que, segundo ele, eram áreas menos exploradas.
            Freud, a partir da sua percepção de que a psique dos seus pacientes estava desorganizada, tenta ordenar a situação de caos aparente e propõe três componentes básicos: o id, o ego e o superego.
            O Id, segundo Fadiman (1986) “contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento.” (...)
            De acordo com esse autor, o Id é a estrutura original, básica e mais central da personalidade. Ele fica exposto tanto às exigências do corpo como aos efeitos do ego e do superego, ou seja, é a “parte” sensível e por isso é denominado como o reservatório de energia de toda a personalidade.
            Mesmo os conteúdos do Id, sendo quase todos inconscientes, são capazes de influenciar a vida mental de uma pessoa, pois agem intensamente e sem controle consciente.
            Sendo o Ego a parte que está em contato com a realidade externa, podemos dizer que ele se vale da experiência, é o chamado “principio da realidade”.
            Ao Ego cabe a tarefa de garantir a saúde, a segurança e a sanidade da personalidade, pois é ele que armazena experiências (na memória), evita estímulos excessivamente internos (mediante a fuga), lida com estímulos moderados (através da adaptação) e aprende a produzir modificações convenientes no mundo externo, em seu próprio beneficio (através da atividade).
            ...”O ego se esforça pelo prazer e busca evitar o desprazer.” (1940, livro 7, pp. 18-19 na ed. bras. In: FADIMAN, 1986, p.11).
            Diante da citação acima, pode-se afirmar que o ego é criado pelo id com a finalidade de reduzir a tensão e aumentar o prazer. Ele deve controlar ou regular os impulsos do id para que o indivíduo busque soluções mais realistas.
            “O id é sensível à necessidade, enquanto que o ego responde às oportunidades.” (p.11)
O grande “juiz” das atividades e pensamentos do ego é o superego. À ele são atribuídas três funções: consciência, auto-observação e formação de ideais.
O Superego age restringindo, proibindo ou julgando comportamentos ou atitudes em um nível consciente e também inconsciente.
Essa estrutura é responsável por causar no indivíduo o sentimento de culpa diante das situações dadas como proibidas.
 A partir da leitura realizada acerca do assunto: inconsciente, id, ego e superego podemos afirmar que ambos são fundamentais para o entendimento do princípio da psicanálise, pois determinam o funcionamento da psique.
 É importante salientar que Freud, observando seus pacientes, percebeu que havia algo que ia além do nível consciente. Todas as angústias, os traumas, entre outros conteúdos, levavam o psicanalista a tentar compreender como tudo se processava e como poderia conseguir a cura para as “dores” do homem.
Durante seus estudos Freud sentiu a necessidade de fazer experimentos e, a eles, foi dando determinados nomes. Assim surgiu o inconsciente que, para ele, subentende acrescentar ainda o pré-consciente e o consciente. O terapeuta iniciou seus estudos nessa direção, queria entender o que havia por “trás” da consciência.  Durante suas investigações ficou evidente a necessidade de organizar alguns aspectos, então, decidiu que seria importante estruturar a psique em três partes: o id, o ego e o superego. Estas determinam a personalidade humana
A partir daí seus estudos objetivava verificar qual a relação existente entre o inconsciente e essas estruturas da personalidade.
O que Freud descobriu e passou a ser reconhecido no mundo científico,  foi que todo ser humano trás consigo o id, estrutura guiada pelo impulso do prazer; o ego, que representa a realidade externa; e o superego, responsável pelo julgamento moral. O que diferencia  a presença marcante de uma estrutura ou de outra no ser humano é que, de acordo com a carga genética e com a influência que o indivíduo recebe do meio ambiente, uma se sobressai mais que a outra. Tem pessoas que vivem sobre a influência do superego e outras do ego e tem aquelas que vivem sobre os impulsos do id. Tudo isso foi descoberto a partir dos estudos realizados em torno do inconsciente.
Portanto, vale salientar que a relação que Freud estabeleceu em suas pesquisas entre o inconsciente e a estrutura da personalidade é a de que apesar de viver socialmente sob os domínios externos (ego), o homem desenvolve sentimentos, desejos (id), consciência de certo ou errado (superego), conteúdos esses extremamente subjetivos, e que ficam alojados numa parte denominada inconsciente.

Bibliografia:

FADIMAN, James. Teorias da Personalidade. São Paulo: HARBRA, 1986.

KUPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação - o Mestre do Impossível.  São Paulo: Scipione,1989.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Análise do filme “A Invenção da Psicanálise – O Homem Rato”

Adriane Maranho

Este trabalho consta da análise do filme “A Invenção da Psicanálise – O Homem Rato”, de Sigmund Freud, e tem por objetivo levar à reflexão de como foi que esse médico neurologista descobriu a psicanálise como uma ciência capaz de curar as neuroses instaladas no homem.
O filme mostra ainda as técnicas de tratamento desenvolvidas pelo médico, como a livre associação e análise dos sonhos e discute os sintomas do paciente no momento em que o mesmo está nas sessões, como, por exemplo, a transferência dos seus problemas para o psicanalista; a projeção; os sentimentos reprimidos desde a infância (desejos sexuais); sentimentos de culpa, repulsa; conflito entre amor e ódio.

O filme tem um narrador que vai mostrando a história da vida de um jovem de 29 anos, caracterizado no filme “A Invenção da Psicanálise”, como O Homem Rato. É um advogado e soldado Austríaco que tem como queixa inicial, um medo terrível com o que vai acontecer ao seu pai e à sua namorada.
Em sua primeira consulta revela que pensou em cortar a garganta com uma navalha. Diz que esse sentimento o acompanhava desde os 9 anos.
Trata-se de um caso de Neurose Obsessiva.
O espaço onde os fatos ocorrem é Viena, capital do Império Áustro-Húngaro – 1906, lugar de mulheres bonitas, aristocratas, soldados – cidade de Straus.
Freud é um jovem médico dedicado a estudar o funcionamento do subconsciente do ser humano, pois acredita que todos os problemas estão instalados lá. Seus pacientes pertencem à classe média de Viena.
Dando início ao tratamento do paciente em questão, O Homem Rato, Freud usa a técnica da livre associação. O paciente deita-se no divã e o psicanalista acomoda-se atrás do mesmo para que o paciente sinta-se mais a vontade para falar, uma vez que não mantém contato direto com o olhar do médico.
O paciente diz que sente desejo sexual normal atualmente (aos 29 anos) e que procurou o médico por ter ouvido falar dele. Diz que reduziu sua vida a algo sem sentido e procurou o médico para tentar solucionar o problema.
O paciente estava à beira de um colapso mental.
Freud teria que tentar solucionar o problema. Anotou tudo o que o paciente falou.
Num congresso, o médico falou sobre O Homem Rato.
Numa outra sessão, o paciente falou sobre seu pai e sobre a governanta da casa. Ele disse que a moça usava pouca roupa e que permitiu que ele a tocasse. Sentiu desejo por ela (aos 6 anos). Falou de uma governanta jovem e bonita que costumava tirar a roupa e o deixava ficar admirando. Tinha curiosidade e ereção aos 6 anos. Acreditava que devia evitar tais sentimentos. Disse que ainda que, quando era jovem, não conseguia pensar na morte do pai e ficava nervoso. Agora, aos 29 anos ainda tinha temores que acontecesse algo ao seu pai, embora ele já estivesse morto há muitos anos. Ainda sentia muito medo.
No Congresso, Freud defendeu a idéia de que o paciente desenvolveu um instinto neurótico referente aos impulsos sexuais da infância (6 anos), desejo pela governanta e a morte de seu pai.
Em outra sessão disse que estava nas manobras (deve ser na Guerra ou algo parecido) e perdeu seus óculos e depois discutiu com o tenente. Sentia medo dele porque ele era cruel, ruim, maltratava os prisioneiros colocando-os deitados de bruços com os braços e pernas abertos e amarrados e em cima das nádegas do prisioneiro, colocavam um balde de boca para baixo com ratos dentro para forçar a saída dos ratos pelo ânus. O paciente associou o caso com o que estava acontecendo com uma senhorita. Sentiu desejo, mas reprimiu. Associou outra vez o castigo ao pai.
Chegaram os óculos novos. Deveria pagá-los para livrar seu pai dos ratos. Armou um plano, mas foi covarde e não cumpriu a promessa para não parecer idiota. Ficou indeciso. Foi para Viena, colocou o dinheiro numa carta e entregou para a moça dos correios.
Numa nova sessão, o paciente disse que o pai tinha enfizema. Sabia que o pai morreria no outro dia da visita do médico. Não aceitou nem entendeu a morte do pai. Sentiu-se criminoso. Não estava presente. Freud explica a ele que fez a ligação errada, que o verdadeiro motivo está alojado no inconsciente e que eles têm que torná-lo consciente para fazer a ligação certa. Acha impossível justificar o sentimento de culpa em relação à morte do pai.
O paciente volta a falar sobre o pai. Era amigo, soldado, excelente pessoa. Fala também que, quando tinha 12 anos, apaixonou-se por uma menina mas ela não gostava dele e ele achou que ela só iria namorá-lo se seu pai morresse porque aí sentiria pena dele (passou rapidamente pela cabeça dele). Seis meses antes do pai morrer pensou na morte do pai. Não quis pensar nele. O paciente se recusa a lembrar, diz que não consegue lembrar. Depois disse que se o pai morresse teria dinheiro para se casar. Seria uma possibilidade. Teve o mesmo pensamento na véspera da morte do pai. Não queria, mas pensou. Desejou e sentiu-se ansioso. “Eu a amo, mas nunca a desejo como a governanta quando era menino”, referindo-se a moça pela qual se diz apaixonado.
Freud diz que seus desejos foram inibidos pelas experiências da infância e o seu pai era o empecilho entre ele e o objeto sexual, e que odiava seu pai desde que era criança. O médico disse ainda “o senhor reprimiu seu ódio”.
O paciente revela outro dado, disse que tentou matar seu irmão quando era menino. Segundo Freud, isso era o conflito entre a memória e o orgulho.

Em 18 de março de 1908, Freud analisa o caso do paciente e o sentimento de hostilidade em relação ao pai, ao irmão e a namorada.
Começando uma outra sessão, o paciente diz que estava passeando de barco com a namorada. Começou a chover e ele queria que ela colocasse seu chapéu. A moça não quis. Ela não aceitou sua imposição e ele a agrediu. Depois continuou remando e dizendo que nada devia acontecer a ela, nunca. Disse que em outra situação, estava esperando por ela, não a via há dias. Imaginou que a pedra no meio do caminho podia causar um acidente. Tirou a pedra do caminho e depois achou ridículo e colocou a pedra de volta no caminho. Teve medo de que algo ruim pudesse acontecer a Gisela. Na verdade tinha medo que ela não o amasse. (E era verdade, ela não o amava). Ele pensava “Eu te odeio Gisela”.
Freud, no Congresso, falou do antagonismo, tirou a pedra do caminho, mas a recolocou (salvar X expor a moça ao perigo). Quando reza pede proteção à Gisela e ao pai e, ao mesmo tempo, pede a não proteção (tenta afastar o mau pensamento em relação a Gisela). Freud escreve no quadro GISELA AMEM, que, falado repetidas vezes e rapidamente, sugere o som “semem”. A explicação que Freud dá é que enquanto rezava rapidamente, o paciente se masturbava.
Numa próxima sessão o paciente “briga” com Freud e este explica que está tentando transferir para ele as suas emoções. O rapaz começa dizer que depois da morte do pai, a mãe insinuou que se casasse com a prima. Ficou doente e a idéia desapareceu. Em seguida, disse que queria falar sobre uma jovem que havia visto na porta da casa do Freud e que o havia deixado muito excitado. Gritou com Freud e perguntou ao psicanalista se ele queria que fosse seu genro.
Freud disse que ele estava transferindo para ele a aversão à possibilidade de casamento. Essa não é a prima rica que a sua mãe queria que se casasse? Freud atribuía muita importância aos sonhos como meio de revelar o inconsciente. As ações dos nossos sonhos interpretados corretamente dão noção do que está no inconsciente.
O paciente briga com Freud e diz que ele o enoja. Freud diz que é porque ele o associou ao pai que queria que ele se casasse com a prima rica.
Freud vai explicando toda a transferência do paciente (o trabalho, os estudos etc).
Ao paciente, foi explicando que há dois lados de relacionamento inconsciente entre o amor e o ódio expresso em um ato obsessivo isolado.
OBS.: Aparece uma cena em que o paciente despiu-se e masturbou-se em frente ao espelho, no escritório.
Num outro depoimento comentou que o pai bateu nele porque havia mordido alguém (relação com o sexo). Xinga Freud e pergunta porque não o põe na rua. Lembra da surra que o pai lhe deu. Bateu muito forte e disse que ele seria um grande homem ou um criminoso. Confessou que tem receio do pai mesmo depois de muito tempo de sua morte.
Freud no Congresso: 10 meses de luta contra (ponto de retorno) a relação de amor e ódio com o pai. Freud pôde refazer a história dos ratos (dinheiro/sujeira; ratos também).
“Quando menino, vi ratos serem mortos com pauladas”
Freud disse que o rato era o paciente quando criança apanhando do pai porque havia mordido alguém.
Na sessão, Freud faz a seguinte análise ao paciente: você devia dinheiro à moça dos correios. Não foi pessoalmente pagá-la porque estava interessado nela, gostava dela, pensou em dormir com ela. Mas aí seria infiel à moça a quem dizia amar (Gisela) e brigava com ela, e estava agradando ao seu pai porque ele queria que se casasse com a prima rica. Inconscientemente, o Sr. reprimiu o fato de que devia dinheiro à moça dos correios e conflitos que eram muito penosos para serem lembrados. Não sabia se continuava a obedecer a seu pai ou se continuava fiel à mulher que tanto amava.
No Congresso, Freud explicou que, no momento em que chegaram à solução, o problema dos ratos desapareceu. Comparou o caso neurótico obsessivo a uma árvore que espalha seus galhos em toda direção, mas seja qual for a folha que a pessoa tomar, ela sempre seguirá o caminho da raiz causadora do mal. O conflito entre o amor e o ódio que nasceu da crença inconsciente do paciente, de que seu pai ficou entre ele e os seus desejos sexuais acabou quando o ódio por seu pai foi revelado. O conflito entre o amor e o ódio ficou resolvido e a importância da sua personalidade normal foi restabelecida.

O tratamento do “Homem Rato” levou 11 meses. A cura foi completa. Não houve recaída.
O próprio Freud e seus colegas reconheceram como um avanço. Provou a existência da sexualidade infantil. Mostrou a ocorrência de experiência precoce da infância e a influência no futuro dessas experiências ocultas em nosso subconsciente.
As idéias psicanalistas de Freud, amplamente apoiadas pelas provas do caso do Homem Rato, ainda que causassem controvérsias, mas para o bem ou para o mal, foram profundamente influenciadas.
Freud é um dos poucos homens do qual podemos autenticamente dizer “ele
revolucionou nossos pensamentos e o nosso modo de viver.”

Ao assistir ao filme “A Invenção da Psicanálise – O Homem Rato”, certamente ampliamos os nossos conhecimentos a respeito da psicanálise como ciência e técnica de tratamento dos problemas humanos, principalmente os que têm suas origens na fase da infância.
Ficou evidente a importância do médico neurologista, e por que não dizer, cientista Freud, para a humanidade, afinal, ele mostrou-se determinado em seus estudos e foi enfático e coerente ao tornar público suas descobertas acerca da psique humana.
Outro dado importante foi poder visualizar como aconteciam as sessões entre o paciente e o psicanalista, podendo perceber a técnica utilizada e o trato dado por ele ao paciente em crise.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

SOBRE O INÍCIO DO TRATAMENTO (NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE) 1913


Adriane Maranho

            Ao ler o texto em questão nos deparamos com a técnica utilizada pela psicanálise para a realização da Associação Livre, que tem como objetivo propiciar ao paciente a possibilidade de expressar seus sentimentos, falar simplesmente sobre o cotidiano, enfim, sobre as coisas que lhe forem importantes e/ou surgirem espontaneamente.
            O texto mostra aspectos como a seleção de pacientes, bem como a importância de deixá-lo falar praticamente o tempo todo sem explicar além do necessário para que prossiga no que está dizendo.
            O início do tratamento pode ser marcado também por dificuldades, como o fato de o analista e seu novo paciente, ou suas famílias serem amigos ou apresentarem algum outro laço pessoal. O ideal seria não realizar o atendimento pois corre-se o risco de abalar a relação entre os envolvidos, uma vez que o analista necessita manter uma postura ética e não perder de vista o seu profissionalismo.
            Outro ponto importante, que marca o início do tratamento, é a relação tempo e dinheiro. O analista necessita deixar claro que a cada paciente será atribuido um tempo do seu dia, mesmo que o paciente não o utilize. O tempo de tratamento varia de paciente para paciente. Alguns podem precisar de um tempo mais longo de tratamento, que outros.
            O dinheiro é também um ponto importante, pois trata dos honorários do médico. Freud argumenta que pessoas civilizadas podem tratar de dinheiro da mesma maneira que tratam questões sexuais: com incoerência, pudor e hipocrisia. Segundo o médico, um tratamento gratuito significa o sacrifício de uma parte considerável — um sétimo ou um oitavo, talvez — do tempo de trabalho que dispõe para ganhar a vida, durante um período de muitos meses. Ele enfatiza que “nada na vida é tão caro quanto a doença e a estupidez.” Diante do exposto,  é pertinente enfatizar a importância de se pagar por um tratamento.
            Em relação à técnica da associação livre, Freud salienta que não importa o material com que se iniciará o tratamento, o fundamental é que o sujeito fale, de preferência deitado num divã, fora do alcance dos olhos do analista. Por outro lado, ao analista, cabe solicitar que o paciente fale sem se preocupar se as coisas fazem sentido. Aquilo que é importante vai se repetir na fala do paciente, e o analista deverá estar atento.
            Quanto às possiveis resistências, o analista deve sempre estar atento. Muitas vezes o paciente diz que não tem nada de errado ou não sabe o que dizer porque está resistente ao trabalho, talvez por vergonha ou medo.
            Freud salienta que o momento ideal para o analista estabelecer uma comunicação com o paciente é após  uma transferência eficaz ter-se estabelecido. “Permanece sendo o primeiro objetivo do tratamento ligar o paciente a ele e a pessoa do médico.”
            Caso a transferência não ocorra, a possibilidade de o tratamento ser lento e ineficaz aumenta. Outro detalhe importante: quanto mais a verdade se aproxima, mais o risco de resistência aumenta, caso não se tenha estabelecido um rapport.

O paciente, contudo, só faz uso da instrução na medida em que é induzido a fazê-lo pela transferência; é por esta razão que nossa primeira comunicação deve ser retida até que uma forte transferência se tenha estabelecida. (FREUD, 1913, vol. XII , p. 88)


FREUD, 1913, vol. XII

terça-feira, 6 de abril de 2010

Análise do filme MENTES PERIGOSAS, de acordo com o texto O QUE É PSICOLOGIA SOCIAL



 Adriane Maranho
Filme “Mentes Perigosas”
Texto “O que é Psicologia Social”, Silvia Lane

            De acordo com Silvia Lane, a identidade social “é o que nos caracteriza como pessoa” (p.16). No caso do filme “Mentes Perigosas”, vimos um grupo de adolescentes de classe social baixa, identificados, num primeiro momento, de forma genérica. Todos os alunos daquela determinada sala de aula, em destaque no filme, eram considerados rebeldes, mal educados etc. Nenhum professor conseguia trabalhar com a turma, os alunos formaram um verdadeiro clã e não permitiam que nenhuma aula fosse dada. Os professores desistiam, com isso, o grupo de adolescentes se fortalecia.

                           Este aspecto de representação de si mesmo parece ser uma característica de adolescente do qual não é exigida uma definição precoce e cujo ambiente social deve enfatizar a autodeterminação do jovem sem impor modelos “bons” a serem seguidos. (p.19)

            No caso dos adolescentes do filme, o modelo que tinham para seguir não era dos melhores até que se deparam com uma professora que, apesar da inexperiência no magistério, tinha características marcantes e importantes para a formação do adolescente: persistência, criatividade, coragem, afeto, respeito.
            A partir do contato com essa professora, os adolescentes que viviam em completo estado de alienação, sempre agindo em grupo e contrariando toda e qualquer regra, tiveram a oportunidade de trocar experiências, de deixar aflorar a criatividade, de dar opiniões, sugestões, de mostrar suas diferenças etc. Enfim, puderam ter consciência de si mesmos e com isso provocar mudanças em suas identidades.

 (...) a consciência de si poderá alterar a identidade social, na medida em que, dentro dos grupos que nos definem, questionamos os papéis quanto à sua determinação e função históricas e, na medida em que os membros do grupo se identifiquem entre si quanto a essa determinação e constatem as relações de dominação que reproduzem uns sobre os outros, é que poderá se tornar agente de mudanças sociais. (p.24)

            Ao final do filme, verificamos que houve mudança no comportamento individual e social daquele grupo. Os adolescentes começaram a valorizar o outro, respeitando seus limites e diferenças. Perceberam a importância do afeto. Permitiram-se viver emoções novas. Entenderam como deve ser a vida socialmente, como a opinião e o sentimento do outro pode influenciar na formação de cada um e conseqüentemente influenciar o todo. "A consciência individual do homem só pode existir nas condições em que existe a consciência social" (A. Leontiev, O Desenvolvimento do Psiquismo, p. 88 in: Silvia Lane, p.24).

     

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Análise Comparativa do filme “Deixe-me viver” e do texto “Conversando sobre sexo na família com filhos adolescentes”, de Juliana Carmona Predebon.

Adriane Gisbert Maranho
Marta Barros

De acordo com o texto "Conversando sobre sexo na família com filhos adolescentes", a família, através do diálogo aberto entre os pais e filhos sobre as questões referentes à sexualidade, possui uma influência significativa na iniciação sexual dos jovens. Além da questão sexual, podemos dizer, segundo Winnicott, que a relação objetal entre o bebê e a mãe vai ocasionar em uma formação psíquica positiva e satisfatória quando o bebê estiver diante de uma “mãe suficientemente boa”, ou seja, uma mãe que o acolhe e lhe dá segurança, que oferece um ambiente saudável e tranqüilo.
Diante das teorias acima mencionadas, podemos dizer que a garota do filme “Deixe-me viver” foi vítima de uma “mãe insuficientemente boa”, uma mãe egocêntrica que pensou em si mesma, em realizar seus desejos pessoais, não se importando se o tratamento dado à sua filha estava correto ou não.
A menina do filme, diante de tal mãe, que não conversava, não discutia os assuntos pessoais e familiares, ao contrário os escondia, teve, na adolescência, graves problemas emocionais. A menina que vivia num ambiente familiar conturbado, porém familiar, passou a viver em casas especializadas em menores (orfanatos) depois que sua mãe foi presa por assassinato. O fato da mãe não conversar com a filha, gerou muitas dúvidas e revoltas, provocando atitudes rebeldes como: cortar os cabelos longos e louros com uma faca (navalha), isolar-se dos demais jovens, reagir às provocações etc.
Isso tudo mostra o quanto a adolescência é uma etapa evolutiva e específica do ser humano. É uma fase de transformações. Nesta fase, o adolescente, como é o caso da personagem do filme, está em busca da identidade pessoal. Ela tenta se encontrar nos lares aos quais é enviada e até toma atitude extremada ao escolher, num determinado momento, um “lar” em que as figuras materna e paterna (casal) são inexistentes, ela escolhe, na verdade um “pensionato de mulheres” que vivem a vida de modo desregrado, à margem da sociedade por apresentarem aparência e atitudes fora da normalidade. É a chamada crise da adolescência.
A protagonista do filme é fortemente criticada pela sua mãe no momento em que foi visitá-la na prisão. A menina, trajando roupas curtas e extravagantes, cabelos negros e maquiagem carregada é acusada pela mãe de estar tendo comportamento inadequado e a compara a uma prostituta, o que nos leva a pensar, segundo o texto em estudo, que a mãe (representante da família) não possibilitou um ambiente de trocas, diálogos abertos e orientação sexual, pelo contrário, viveu a sua vida a revelia sem desprender grandes preocupações com a formação da sua filha adolescente.
O texto discute ainda a dificuldade que os pais têm em conversar sobre sexualidade, o quanto se sentem embaraçados ao falar sobre sexo. Os filhos, por sua vez, também relutam em conversar sobre o assunto, pois sentem vergonha.
Na opinião da autora, também é importante criarem programas, intervenções e objetivos para auxiliarem esses pais a desenvolverem algumas habilidades sociais em relação aos seus filhos. É importante ainda salientar que aos pais cabe a função de falar sobre sexo com seus filhos de modo a transmitir valores morais/afetivos sobre atividades sexuais e seus conceitos de certo e errado.
Sendo assim, podemos concluir dizendo que esse “pai” e essa “mãe”, a garota do filme, definitivamente não teve. Ela precisou aprender a lidar com sua afetividade e sexualidade na convivência que estabeleceu, por exemplo, com o rapaz (desenhista), interno no mesmo orfanato que ela e com a moça rica (atriz), com quem ela foi morar por alguns anos, e não com os pais, que é como deveria ter sido.






Bibliografia:

NASIO, J.D. et al. (1995). Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. p. 181-201.

WAGNER, Adriana (coord.). Família em Cena – Tramas, Dramas e Transformações. Petrópolis: Vozes, p. 159-171.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Refletindo acerda da Psicologia e o SUS


Adriane Maranho
            Os textos para esta análise tratam de conteúdos relacionados ao SUS (Sistema Único de Saúde), abordam questões  que refletem o contexto histórico da atenção à saúde no Brasil; da re-orientação da assistência: a era da promoção da saúde; e também versam sobre a ressignificação exigida para pensar a saúde na perspectiva coletiva: contrastando Saúde Pública e Saúde Coletiva e, por fim, enfatiza os desafios da prática psicológica no SUS. São aspectos que colocam em discussão o trabalho do Psicólogo, bem como a atuação da área Psi.
            Pois bem, ao pensarmos no contexto histórico da atenção à saúde no Brasil podemos dizer que este perpassa o caminho político, uma vez que surge a necessidade de modificar o sistema, ou seja, a história revela que o modelo curativo não funiona de modo adequado, então é fundamental que haja  uma reorganização e que esta esteja voltada à individualização. O momento passa a ser o de prevenção.
            Onde entra a política nessa história? Ela surge como resposta aos debates e fomentações a respeito do assunto. O resultado é que na Constituição de 1988 ficou estabelecido que os princípios básicos do SUS seriam os seguintes: universalidade, gratuidade, integralidade e organização descentralizada. E todos deveriam seguir, uma vez que priorizava a melhora no atendimento à saúde.
            Outro aspecto interessante é o da determinação social da doença, ou seja, ao longo do tempo percebeu-se que o importante era levar em consideração não somente a doença individual do sujeito e sim observar comportamento do indivíduo, a cultura em que o mesmo está inserido, assim seria possível compreender o adoecimento.
            E o Psicólogo, como ele atua em benefício das tais doenças individuais e sociais? Afinal, tem espaço para ele?
            Pois bem, entre as atuações da Saúde pública e da Saúde Coletiva surge então o psicólogo. Verificou-se a necessidade de não mais ver o individuo apenas sob o aspecto Biológico e sim sob o aspecto das Ciências Humanas, o que significa dizer que abre-se o campo para a multidisciplinaridade, ou seja, agora os profissionais discutem os casos, cada um na sua especialidade, porém respeitando a área de atuação de todos, inclusive a área da Psicologia, especialmente a Psicologia Social.
            Por fim, o texto coloca os desafios da prática psicológica no SUS. Sim, um desafio, uma vez que o sistema desvia (ou pelo menos tenta) a atuação desse profissional restringindo-o ao atendimento ambulatorial. O fundamental aqui é que o profissional tenha uma noção exata não só do indivíduo, mas também da sua real contribuição para a melhora do paciente. É importante também que as áreas psi saibam delimitar bem seus campos de atuação. Nesse momento o Psicólogo deve estar certo do seu papel na atuação do SUS, desse modo poderá contribuir,por exemplo, para uma diminuição da medicalização no campo da Psiquiatria, uma vez que a psicologia pode contribuir na recuperação do indivíduo.
            Voltando à questão política, não podemos deixar de mencionar o fato de ser através dela que se organiza órgãos públicos. No caso do SUS, é politicamente que se trabalha os princípios básicos, ou seja, a regionalização, a integralidade e a participação popular, tudo isso é decidido politicamente para que se possa garantir a ordem e o cumprimento das regras estabelecidas.
            Isso posto, podemos afirmar que, apesar dos esforços políticos, sociais e sanitários ao longo do tempo,   o SUS continua frágil. Nem todos os “doentes” recebem atendimento adequado; nem todos os funcionários do SUS dão e/ou recebem atendimentos adequados. Há uma tentativa legal de moralização do Sistema Único de Saúde, porém, verificamos que na prática as coisas não ocorrem de fato. Falta motivação (intrínseca e extrínseca) por parte de quem trabalha e há uma descrença, um conformismo de quem precisa ser atendido. A fragilidade do SUS se revela também no aumento de Planos de Saúde particulares, em que as pessoas melhores favorecidas pagam para garantir um atendimento de qualidade e não ter que enfrentar fila de espera para realizarem cirurgias de grande porte ou até mesmo para serem atendidos em casos corriqueiros.
            O sentimento que fica é o de impotência, tanto do ponto de vista de quem necessita de atendimento quanto do profissional que fica limitado em atender a demanda, principalmente no que diz respeito à profissão Psicólogo, pois bem sabemos que na rede pública o atendimento é escasso e na rede privada ainda nem exitem convênios para tal atendimento. O que fica é a sensação de que a luta pelo espaço/atuação na área de Psicologia vai longe.